quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Como uma 'cena secreta de sexo' foi parar em Harry Potter


No final de "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban", escondido no canto esquerdo do Mapa do Marato, está o que muitos fãs dedicados, os Potterheads, presumem ser dois alunos se beijando, apesar da classificação Livre do filme adaptado.

Para os que não conhecem a mágica do universo de Harry Potter, o Mapa do Maroto mostra a localização de todo mundo dentro da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts através de pequenas pegadas. Normalmente, um rápido olhar no mapa nos mostra vários pares de pegadas andando ou vagueando por aí, mas dada a posição destes dois pares específicos de pés, e uma mexidinha de meio segundo, fica fácil imaginar o que estes dois alunos estão aprontando.

Este momento, potencialmente escandaloso (veja acima), ocorre nos créditos finais do filme e foi uma sequência meio longa e impressionante, sem precedentes na época. Depois de seguir um enorme número de pessoas que trabalharam nos mais variados tipos de efeitos visuais do filme e, em especial, o Mapa do Maroto, The Huffington Post finalmente encontrou Rus Wetherell, o responsável por criar essa sequência e os passos misteriosos.

Será que esse momento fugaz era verdadeiramente uma "cena de sexo" ou será que a verdadeira intenção era menos definida? Será que as pegadas acabaram escapando sem ninguém ficar sabendo ou será que o diretor de "Prisioneiro de Azkaban", vencedor do Oscar, Alfonso Cuarón, insistiu na inclusão das mesmas no corte final?

Wetherell tem as respostas...

As pegadas podem pertencer a Harry Potter e Cho Chang, mas a intenção era não ser tão específico.





A ideia das pegadas no canto da tela, foi tipo um momento "atrás do muro da escola" que "não era para ser de qualquer personagem específico do filme". Com isso esclarecido, Wetherell sugeriu que poderia sim ser uma extensão do beijo de Potter e Chang.

Embora isso só tenha acontecido na "Ordem da Fênix", o terceiro filme, que teve algumas críticas por terem retirado a parte onde Potter se apaixona por Chang, então talvez esta tenha sido uma maneira de compensar isso, certo?

"Talvez isso tenha sido feito para Harry, mas todos nós já fomos crianças, fomos à escola e coisas assim... Foi apenas um beijinho na bochecha", garantiu Wetherell.

Na mente de Wetherell, os pés do casal "estão se abraçando" e "não fazendo sexo como todo mundo diz". “Incluir esses pés acabou fazendo parte do filme porque quando o diretor Alfonso Cuarón percebeu que eles estavam lá começou a rir e "ficou louco com aquilo". Wetherell explicou que Cuarón gostou pois para ele foi "algo divertido para os adultos na plateia e que as crianças realmente não entenderiam."

Originalmente, Wetherell sugeriu fazer mais coisas com os pés, mas Cuarón disse que não, apenas deixe como está e prossiga. "Isso foi apenas algo leve e descontraído que fez as pessoas sorrirem", disse Wetherell. E assim o momento adulto - que não é de forma alguma uma "cena de sexo" - passou na classificam Livre do filme.

O "abraço" foi ilustrado como uma brincadeira, com a intenção de ser removido mais tarde. Em vez disso, Cuarón adorou o momento "adulto".





O "abraço" nasceu em um fim de noite quando Wetherell "já estava ficando um pouco fora de si". Ele estava tentando montar "um montão de pegadas" e uma hora ele "jogou um par ali e isso fez [ele] rir às 4 da manhã, depois de trabalhar por 20 dias, dia após dia".

"Havia um recanto na arte, foi meio que uma oportunidade de ter um casal de estudantes se escondendo lá dentro. Então, eu joguei um par de pés ali", disse Wetherell.

Como o processo estava indo bem, Wetherell inseriu muitos passos diferentes como se fossem marcadores, pois ele tinha a intenção de voltar neles para, pelo menos, "embelezar e melhorar". No entanto, com a demanda da produção e dos prazos, Wetherell admitiu que houve alguns que ele simplesmente nunca teve tempo de voltar e junto com as instruções de Cuarón, o abraço sorrateiro também sobreviveu.

Cuarón estava envolvido bem de perto com o trabalho de Wetherell e "viu cada aspecto do filme, inclusive cada um dos pares de pegadas". O entusiasmo de Cuarón com a forma que os créditos finais estavam ficando incentivaram Wetherell a continuar incluindo "mais e mais e mais" o que acabou levando à inclusão do abraço.

Os créditos finais foram os mais longos já realizados na época, o que fez com que Wetherell trabalhasse muitos dias consecutivos por 20 horas, por mais de um mês.




Originalmente, o Mapa do Maroto do filme principal foi criado por uma equipe de artistas, entre eles Miraphora Mina e Eduardo Lima, e a partir desse esboço a empresa Cinesite contratou o artista de efeitos visuais Evan Davies para criar as pegadas que se dissolvem. Todas essas coisas - incluindo o mapa objeto de cena - foram entregues a Wetherell que desenvolveu o elaborado padrão de pegadas para os créditos finais, praticamente sozinho.

Isso acabou se tornando um elaborado processo devido à tecnologia da época e a relativa novidade de Wetherell na área, causando um "período incrivelmente intensivo" de trabalho que ele lembra ter durado cerca de cinco a seis semanas com dias de 20 horas. Com cerca de 11 minutos de duração, a sequência final foi a mais longa do tipo na época e, incluindo os rascunhos, Wetherell teve que criar milhares de diferentes passos, com diferentes velocidades, ritmos e padrões de direção, para completar o mapa.

O mapa personalizado foi feito em pergaminho e depois gravado com um movimento de câmera que teve de ser calculado com exatidão para manter o nome de todos na tela, na quantidade certa de tempo. Em várias ocasiões existiam mais nomes na lista de créditos e então tínhamos que refazer todo o processo. Havia cerca de 100 diferentes peças de arte que tinham que ser colocadas juntas e assim, por causa de um ligeiro ajuste exigia uma séria reformulação.

Além disso, Wetherell tinha recebido apenas um elemento de efeito visual para um dos pés e, assim, para não parecer um trabalho chato de clonagem durante os longos créditos finais, ele teve que criar muitas etapas diferentes. De acordo com Wetherell, o trabalho "tentava dar a ilusão de que todas essas pegadas fossem realmente de diferentes personagens fazendo coisas diferentes em momentos diferentes", como pular, saltar ou saltitar, ou ainda algo mais nefasto.

Muitas "surpresas" adicionais ainda não foram encontradas nos créditos finais, tais como as palavras escondidas no texto em Latim.




Durante toda a sequência de créditos finais, as pegadas têm vários momentos únicos, como quando eles se transformam em estampas de animais em torno do nome da empresa cinematográfica de efeitos visuais, a ILM, ou, ainda, o abraço. Um desses momentos elaborados envolve uma "Loja de Bombas de Fedor" quando há uma miniexplosão e em seguida todos os pés saem correndo.

Mas Wetherell não considera esses momentos como verdadeiras surpresas – ou momentos escondidos - de sua obra, como se ele tivesse escondido ainda outros mais difíceis de detectar nos créditos. Aparentemente, há várias coisas escondidas no texto em Latim que compõem os muros do Mapa do Maroto que, de acordo com Wetherell, estão "muito bem escondidas".

Embora ele não tenha revelado as partes escondidas, Wetherell pelo menos disse que algumas das palavras ocultas são simplesmente créditos de produção que não tiveram uma inclusão de destaque na lista de nomes - incluindo o seu próprio. Era a política da empresa de seu empregador, Capital FX, não incluir seu próprio crédito em qualquer parte do trabalho e assim ele imaginou que poderia muito bem ter seu nome em algum lugar. Isto, aliás, parece ser uma prática comum com os artistas visuais. Davies, que fez as pegadas da animação, revelou ao HuffPost que ele tinha feito a mesma coisa e tem o seu logo "sequência do Profeta Diário".

Wetherell disse que se deu conta que pessoas da equipe de produção tiveram basicamente crises nervosas ao trabalhar com estas coisas e mereciam pelo menos algum tipo de reconhecimento e que fosse na tela de agradecimento.

Certamente foi um final feliz.



"O rolo final, muitas vezes, serve como uma espécie de último pensamento", disse Wetherell, que explica o contexto do trabalho assumido há mais de uma década. "Foi apenas o velho oeste daquela época." Esse cronograma intenso de produção saiu do fato de que nada como essa sequência de créditos finais tinha sido tentado antes e o que "realmente começou como uma tarefa simples" acabou, em retrospectiva, sendo um trabalho que "provavelmente precisa de uma equipe de cinco pessoas, "de acordo com Wetherell.

Mesmo assim, Wetherell se orgulha do fato de que agora as transmissões de TV regularmente reproduzem o filme todo, inclusive os créditos finais, e que os colegas, pessoas da indústria e membros da Warner Brothers, o felicitaram pelo esforço. Ocasionalmente amigos antigos de trabalho brincam e falam sobre a inesperada "intensidade do projeto, mas também, o tipo de modelo que ele quebrou até nos créditos finais."

O filho e a filha de Wetherell ainda não têm idade suficiente para apreciar Harry Potter, mas ele está animado com o momento em que finalmente ele poderá mostrar o rolo final com os créditos finais que Cuarón exibiu e ele tem conservado ao longo de todos estes anos. Na sua cabeça foi o trabalho mais exigente de sua carreira e ele tem orgulho em irritar um pouco as redes de televisão forçando-as a mostrar o seu trabalho.

Durante a produção, Wetherell levava a impressão dos filmes 35 milímetros debaixo do braço para as sessões de teste em Londres e se esforçava cada vez mais só para não "decepcionar" Cuarón. Esta ética de trabalho acabou dando certo e fez com que ele recebesse trabalhos posteriores de outros projetos de Cuarón, incluindo o filme nomeado ao Oscar, "Filhos da Esperança".
Em relação às outras surpresas, além do abraço, Wetherell acredita que elas podem simplesmente ficar escondidas para sempre.

"Passaram-se 10 anos... você é a primeira pessoa a me contatar sobre isto. E eu não tenho feito muito pesquisas online, mas ninguém parece ter encontrado alguma coisa ali", disse Wetherell."Quem sabe, talvez, daqui a 10 anos isso ainda esteja lá."
Todas as imagens da franquia dos filmes de Harry Potter são da Warner Bros. Pictures, salvo quando indicado.





Fonte: www.brasilpost.com.br Tradução: Simone Palma

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